A picareta e o zango fere na terra
rasgada água aponta para o sol
o cabo do militar da ponta
no ar aeronave e guerra flutuam
siris armados acuados dançam
a draga como ostra atraca a costa
assoreada a lama apodrece seca e quebra
armada segura e amada dos cabos na limpeza
paira poeira como insetos refletidos de luz
o cabo quebra o cabo do machado no cabo
aterra de areia nova o deserto de cascalhos
dorme o cego de olhos ferrados e sonha
desterrada a mata espia descoberta de pássaros
novos navegantes bordam a costa
coloridas velas de vegetação e praias
panos asas remendos de caminhos distantes
o barro furado segura a água borrada
no representar desaparece a cicatriz da atriz
ferram o calo e o cabo na mão do agricultor
dá cabo ao peixe a luta agrícola
vaza como vaso quebrado a poça arrombada.

Ilha, junho de 1998

1998 | A franca fraca faca da sutileza


A franca fraca faca da sutileza
dos cabelos o grampo escapa
o arame e a farpa protegem o milho
febre e sede de afiadas cercas
terra colorida de cego às cegas
liberdade e fome de dois pontos
romântico olho fixa o beija-flor
o néctar na língua ponteaguda jorra
toma na penetração macia e exótica
adornado em côres brilhante pássaro
molhada a folha do jornal
borra cruzados fios em postes
espalha luz seguro
o telhado espera algo
a roupa sêca se solta do prendedor
dura caminhada isola a sola cor
bocas e túneis passam objetos
a triturar os dentes aos galhos
a última gôta escorre sentido os cinco sentidos
ficam o pé passeia sôbre os dedos
pose de distraído peso
som e odores robotizam a cabeça
corredor de guilhotinas arrumadas
Treme a carne entre a pele
Lã aquecida do corpo frio.

Ilha, julho de 1998