Escondido alinhado sol ardente
Deixa escapar raios frios no ainda
Escuro
Iscas presas alongalinha
Transparente
Corta as águas às cegas pelas costas
Solto o fio ourado no céu
Que o avião solta e confia
No vasto oceano vazio
O peixe perdido na isca de metal
O pescador cruza o posto salvavidas
A cruz e a mata
Confia na luz que poste espalha
E caminha entre sombras
Dividido nos quatro quadrados do fio
Pitagórico
Norte sul leste oeste.

Rio Tavares, maio de 2005

A picareta e o zango fere na terra
rasgada água aponta para o sol
o cabo do militar da ponta
no ar aeronave e guerra flutuam
siris armados acuados dançam
a draga como ostra atraca a costa
assoreada a lama apodrece seca e quebra
armada segura e amada dos cabos na limpeza
paira poeira como insetos refletidos de luz
o cabo quebra o cabo do machado no cabo
aterra de areia nova o deserto de cascalhos
dorme o cego de olhos ferrados e sonha
desterrada a mata espia descoberta de pássaros
novos navegantes bordam a costa
coloridas velas de vegetação e praias
panos asas remendos de caminhos distantes
o barro furado segura a água borrada
no representar desaparece a cicatriz da atriz
ferram o calo e o cabo na mão do agricultor
dá cabo ao peixe a luta agrícola
vaza como vaso quebrado a poça arrombada.

Ilha, junho de 1998

1998 | A franca fraca faca da sutileza


A franca fraca faca da sutileza
dos cabelos o grampo escapa
o arame e a farpa protegem o milho
febre e sede de afiadas cercas
terra colorida de cego às cegas
liberdade e fome de dois pontos
romântico olho fixa o beija-flor
o néctar na língua ponteaguda jorra
toma na penetração macia e exótica
adornado em côres brilhante pássaro
molhada a folha do jornal
borra cruzados fios em postes
espalha luz seguro
o telhado espera algo
a roupa sêca se solta do prendedor
dura caminhada isola a sola cor
bocas e túneis passam objetos
a triturar os dentes aos galhos
a última gôta escorre sentido os cinco sentidos
ficam o pé passeia sôbre os dedos
pose de distraído peso
som e odores robotizam a cabeça
corredor de guilhotinas arrumadas
Treme a carne entre a pele
Lã aquecida do corpo frio.

Ilha, julho de 1998

1998 | Tomba cai pira mané


Tomba cai pira mané
maré oscila entre barcos e ilhas
instalada barganha e gases
navegante segue a leste
tonto destrói o tempo da travessia
caixas e malas sagradas de pedras
clima das setas dos incertos certos justos
fortes protegidos da úmida razão
ilhada presa a mata selvagem
rígidos corpos de palhas e insetos
milho aipim e taiá em modernas coletas
marcha nas preces silenciosa viagem
mordida aos poucos a terra dos sonhos
solidária expectativa desenterrada
olhos crescem de rajadas jaboticabas
deformada magia das formas
entulhos interligam pontas e pontes
praças bêbadas de artificialidades
quebradas lascas não molha o pé e a terra
além mares pescadores partem
espera ao tempo a longa triagem
devoradores de pitanga goiaba ingá e araçá
viajam o aterro da nova terra
desterrada pressa de quem a aterrou
a virgem violentada não geme
passa a posse e usufrua
rasgada quase nua suspira
na sede o animal se afoga
fere o ferro torto como anzol
alucinados náufragos distraídos
caçam as costas que coçam.

Ilha, julho de 1998