LORO ILHA ::: 30 Anos de Arte


Já está disponível para aquisição o catálogo de obras do artista plástico Loro de Lima. A obra, com edição especial de 2001, apresenta mais de 200 obras de Loro, fotografias biográficas e textos de críticos e artistas plásticos catarinenses.
Trata-se de um registro importante da trajetória de um artista que, nas palavras de Harry Laus é "um dos representantes significativos" da renovação da Arte Catarinense.

"No caso particular de Loro, objeto desta apresentação [...], vale referir como o artista foi fugindo paulatinamente da figuração inicial de sua carreira, até atingir a abstração na pintura atual. Como um dos pontos positivos, essa pintura guarda sinais de reminiscências da infância na Ilha, na cor como na composição. Percebe-se isso não só no emprego do verde como em pequenos detalhes que insinuam vagas recordações do tempo passado. As referências humanizadoras de seu trabalho, longe de prejudicarem o resultado final, servem para valorizá-lo em face do autocontrole que dirige a concepção do quadro; a disciplina é tão bem dosada que não interfere com a emoção criativa, dando-lhe maior realce e consequência.
A pintura vigorosa de Loro, servindo de referência para a atualização da Arte Catarinense, inscreve-se também no contexto saudável dos que têm algo a dizer e sabem como fazê-lo"
Harry Laus [Tijucas, 11/12/1922 — Florianópolis, 27 /05/1992]
Crítico de Arte e escritor, Santa Catarina

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chbplan@terra.com.br

VALOR DO EXEMPLAR: R$ 50,00

Escondido alinhado sol ardente
Deixa escapar raios frios no ainda
Escuro
Iscas presas alongalinha
Transparente
Corta as águas às cegas pelas costas
Solto o fio ourado no céu
Que o avião solta e confia
No vasto oceano vazio
O peixe perdido na isca de metal
O pescador cruza o posto salvavidas
A cruz e a mata
Confia na luz que poste espalha
E caminha entre sombras
Dividido nos quatro quadrados do fio
Pitagórico
Norte sul leste oeste.

Rio Tavares, maio de 2005

A picareta e o zango fere na terra
rasgada água aponta para o sol
o cabo do militar da ponta
no ar aeronave e guerra flutuam
siris armados acuados dançam
a draga como ostra atraca a costa
assoreada a lama apodrece seca e quebra
armada segura e amada dos cabos na limpeza
paira poeira como insetos refletidos de luz
o cabo quebra o cabo do machado no cabo
aterra de areia nova o deserto de cascalhos
dorme o cego de olhos ferrados e sonha
desterrada a mata espia descoberta de pássaros
novos navegantes bordam a costa
coloridas velas de vegetação e praias
panos asas remendos de caminhos distantes
o barro furado segura a água borrada
no representar desaparece a cicatriz da atriz
ferram o calo e o cabo na mão do agricultor
dá cabo ao peixe a luta agrícola
vaza como vaso quebrado a poça arrombada.

Ilha, junho de 1998

1998 | A franca fraca faca da sutileza


A franca fraca faca da sutileza
dos cabelos o grampo escapa
o arame e a farpa protegem o milho
febre e sede de afiadas cercas
terra colorida de cego às cegas
liberdade e fome de dois pontos
romântico olho fixa o beija-flor
o néctar na língua ponteaguda jorra
toma na penetração macia e exótica
adornado em côres brilhante pássaro
molhada a folha do jornal
borra cruzados fios em postes
espalha luz seguro
o telhado espera algo
a roupa sêca se solta do prendedor
dura caminhada isola a sola cor
bocas e túneis passam objetos
a triturar os dentes aos galhos
a última gôta escorre sentido os cinco sentidos
ficam o pé passeia sôbre os dedos
pose de distraído peso
som e odores robotizam a cabeça
corredor de guilhotinas arrumadas
Treme a carne entre a pele
Lã aquecida do corpo frio.

Ilha, julho de 1998

1998 | Tomba cai pira mané


Tomba cai pira mané
maré oscila entre barcos e ilhas
instalada barganha e gases
navegante segue a leste
tonto destrói o tempo da travessia
caixas e malas sagradas de pedras
clima das setas dos incertos certos justos
fortes protegidos da úmida razão
ilhada presa a mata selvagem
rígidos corpos de palhas e insetos
milho aipim e taiá em modernas coletas
marcha nas preces silenciosa viagem
mordida aos poucos a terra dos sonhos
solidária expectativa desenterrada
olhos crescem de rajadas jaboticabas
deformada magia das formas
entulhos interligam pontas e pontes
praças bêbadas de artificialidades
quebradas lascas não molha o pé e a terra
além mares pescadores partem
espera ao tempo a longa triagem
devoradores de pitanga goiaba ingá e araçá
viajam o aterro da nova terra
desterrada pressa de quem a aterrou
a virgem violentada não geme
passa a posse e usufrua
rasgada quase nua suspira
na sede o animal se afoga
fere o ferro torto como anzol
alucinados náufragos distraídos
caçam as costas que coçam.

Ilha, julho de 1998

2000 | A ponte pencil flutua no cinza

Confronto o céu na teia
a ponte pencil flutua no cinza
arranhada aranha sofre no azul da luz
sobra sobre o ateu linhas e pistas
cruzado em leste oeste
do sol dentre raios
ponta norte sul do ilhado vento
novo ameaçador sobre velhas pegadas
presa à teia da aranha morta a folha seca
o dedo aponta o outro lado que não o avesso
lema e leme rumos rumores segue
fundos opacos de espelhos quebrados espetam
a roupa esconde o que teceu pro nu
caroço escondido nos grãos de areia
carne tecida entre véu e perdas
branca coleta de jardim
roxos sobre os amarelos
almofadas dedos e bilros faz renda às alfinetadas
frágil oscilante linho sempre me cerca
do outro lado o certo sussurra aflito
agonizante de mim mesmo grito.

ilha , 2000.

2001 | a/deus

Telhas e teias nos céus
ateístas ao sol abrigam a/deus
rastros de fumaça come o homem
co”as pernas dedilha a aranha
cruzando fios de alta tensão
pensa na lua de olho ao teto
da baixa distância a/próxima altura
forma imagin/ante letra deformada
busca presa ao lado do deserto
asseguro a tempo e me per/mito seguro
se move em milésimos de segundos o chão
piso de desordenadas formas
em ordem tento e sempre faço
pulando sobre pedras e cascatas ao limo.

1° de agosto de 2001.